Asa que não voa...

12.1.18


Hoje a manhã começou em sobressalto!

Cheguei cedo à Avenida da Boavista e enquanto lutava nesta selva de asfalto por um lugar de estacionamento, vi uma gaivota, aparentemente ferida.

Dentro do carro a perceção não era a melhor por isso estacionei ali mesmo (onde não devia, assumo) e saí.

Coloquei-me naquela posição estranha, de cóqueras e a chamá-la como se fosse um cão.

A asa estava completamente torcida (partida) e foi aí que percebi que virar a cara não ia acontecer!

Tentei conduzi-la para um jardim (mais seguro que a face da estrada) o que se revelou uma tarefa complicada (insistia em ir para o meio da estrada).

Entre o segurar do fôlego (por favor não sejas atropelada) e manter a firmeza de levar isto até ao fim, consegui.

Já no jardim, o passo seguinte (e inconsciente) foi que ela tinha que comer.

Não tinha muito além das bolachas Maria torradas, e foi isso mesmo que lhe dei, parti em pedaços pequenos meia dúzia de biscoitos e ela lá os comeu.

Eu sei que associamos as gaivotas aos assaltos constantes nos caixotes de lixo, comem pombos e até crias de gato (quando são pequenas) mas por mais que isso me desconforte, tento perceber que faz parte da cadeia alimentar "forçada" de animais que se vêm desprovidos de abundância de comida no mar.

Eu nunca fui muito hábil a compreender isto de uns comerem os outros, choro sempre pelo que está na posição mais fraca, mas pronto, é a lei da natureza, não é?!

Voltando à gaivota, com ela no jardim e o papo cheio de bolachas, apressei-me a pedir ajuda no facebook.

Tudo acontece nas redes sociais (ou praticamente tudo, enfim, é o que é) e se por um lado perdemos o controlo do que postamos, por outro, esse "descontrolo" até pode ser benéfico.

Foi o caso, uma ideia levou a outra e consegui que o Parque Biológico de Gaia me indicasse o 
G.D.L.U. (grupo desportivo de limpeza urbana) que por sua vez me indicou o serviço de recolha animal.

Explicada a história vezes sem conta (faz parte daqueles exercícios de calma e autocontrole a que estamos sujeitos nestas coisas)  lá me asseguraram que alguém iria levantar o pássaro e para esse efeito deixei a morada e identificação.

Com o coração menos ansioso, o passo seguinte foi dar água ao animal (nunca vi uma gaivota beber tanta água) e pão (alguém me deu um pão) que serviu para aconchegar mais o estômago.

Como estava a trabalhar, ia acompanhando tudo pela montra, saindo sempre que podia para me certificar que a água estava cheia e não aparecia nenhum gato atrevido com vontade desafiadora de vencer o pássaro ferido.

Este processo começou pouco antes das 10:00 e terminou perto das 12:45, quando apareceram dois senhores para proceder à recolha do animal.



Gostava de acreditar num Mundo melhor ... gostava.
 
Honestamente não sei o desfecho que lhe darão ... mas torço para que seja um de acordo com o respeito e afeto que ela merece.

Não é “só uma gaivota” .. É um ser vivo que respira como qualquer um de nós!

E de alguma forma parafraseando A Gaivota, de Amália Rodrigues, É uma asa que não voa, Esmorece e cai no mar.

FranciscoVilhena


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