Tasting com Alexandre Duarte

24.2.15


Alexandre Duarte tem 19 anos e foi através da mãe, Cláudia Dias, que fiquei a conhecê-lo.

A curiosidade instalou-se quando vi as habilidades de que é capaz, para mim quase ou totalmente indescritíveis (tenho a plena certeza que o meu corpo não trouxe o mesmo manual de instruções (risos)).

Brincadeiras à parte, Alexandre, completou um curso de Vertente-Dança no Ginasiano Escola de Dança e atualmente estuda em Roterdão - na Codarts Circus Arts, para dar continuidade aquilo que faz e faz tão bem.

Faço contorcionismo, ou seja, consigo atingir posturas com um elevado nível de flexibilidade e com este factor, acrescento-lhe a modalidade aérea, nomeadamente aerial-hoop e tecido vertical, onde simplesmente danço no ar...

De ideias fixas, foi aos 10 anos que disse à família, pela primeira vez, que queria sair do país. 

Inicialmente todos riram, mas tornei essa ideia num objectivo. 

Completará um bacharelado de artes circenses, sendo a sua especialização nas artes aéreas com a professora de re-nome, Evgeniya Kalugina.

Apesar de ter a matrícula congelada, até ao final do ano, infelizmente devido a uma lesão grave, continua a viver em Roterdão onde faz tratamentos e consegue manter os treinos, ainda que com um ritmo diferente, visto que tenho mais tempo livre e trabalho mais regularmente em Portugal do que anteriormente.

Facilmente se percebe que a dança, praticamente nasceu com o Alexandre, por isso não resisti a perguntar, apesar de tão novo, será este um sonho realizado?

Desde muito pequeno sempre adorei dançar. E adorava explorar os limites do meu corpo, fazia-o com tamanha naturalidade que nem me apercebia da dificuldade do que fazia, as minhas brincadeiras consistiam em praticar habilidades de contorção, mesmo sem eu saber o que era na altura. 

A minha mãe, posteriormente, inscreveu-me numa equipa de ginástica acrobática, foi ai que realmente entendi que era um pouco diferente do habitual, pois tudo me parecia natural e não tinha que me esforçar assim tanto para aprender as coisas. 

Mais tarde, por pressão da parte da minha mãe, fiz audições para o Ginasiano - Escola de Dança. Inicialmente foi complicado, porque era alvo de preconceito por parte dos colegas de escola, visto que era um rapaz de 13 anos a praticar dança. Mas isso apenas me tornou mais forte e foi realmente no Ginasiano que a paixão pela dança cresceu.

Se é um sonho realizado? Acho que isso nunca poderei dizer, pois o mundo da dança é infinito.

Com 19 anos, Alexandre conta já com um vasto e invejável curriculum assim como prémios e participações especiais.

Inicialmente, quando entrei em ginástica acrobática escolar, devido à minha rápida evolução, entrei em competição passado 1 mês de treinos e atingi o 3º lugar na categoria de pares-mistos. Obviamente isto foi a primeira vez que acreditei nas minhas capacidades. Mais tarde competi novamente em trios masculinos, atingindo o 2º lugar.

No Ginasiano também experienciei sensações fantásticas... Recordando-me de algumas, lembro de 3 peças que realmente mudaram a minha vida. 

"Segredo Secreto" de Ana Figueira, uma intervenção entre bailarinos e surdos, utilizando 4 trapézios de dança. É uma obra única, que fiz inicialmente no Ginasiano e repeti-a mais tarde, precisamente há 1 ano. Foi durante esta peça que entendi que adorava dançar... mas mais ainda, dançar no ar.


Outra peça que mexeu comigo, foi sem dúvida "Focus Fragmentado" de Isabel Ariel. 4 corpos livres, fragmentados pelo espaço. Lembro-me de ir apresentar esta peça em Madrid, representando a escola. Foi uma experiência incrível, sempre que ouço a música do acto, entro num mundo paralelo. 

Mas sem dúvida, esta peça foi a que mais me impulsionou a seguir este sonho, "Brainstorm" de Ana Figueira. Foi o meu primeiro solo, criado por mim e pela coreografa Ana Figueira. Todo o processo foi incrível, constante e único. Em palco, foi a primeira vez que tudo se apagou à minha volta, apenas me lembro do inicio e do final, quando as palmas surgiram.

Não sentes que dizer que 'danças', seja um pouco redutor, levando em consideração tudo aquilo que realmente fazes?

Não de todo! Para mim dançar é uma infinidade. Obviamente o que faço, pode nem sempre ser considerado "dança", mas sim contorcionismo ou modalidade aérea. Eu discordo, visto que para mim, movimento é dança, nós é que atribuímos um significado aquilo que fazemos e vemos.

Participar no Got Talent Portugal 2015, abriu ou está a abrir novas portas?

Não diria que por agora abriu novas portas, visto que mantenho o mesmo trabalho que mantinha anteriormente e a minha vida não mudou assim tanto. Apenas acho que existe mais valorização e reconhecimento por parte dos espectadores e também em termos familiares, visto que inicialmente não tinha o apoio total da minha familia, com a excepção da minha mãe e avó. Posso agora dizer que me sinto apoiado por todos.



Apesar de vivermos numa época de aparente dificuldade, nomeadamente nas artes, Alexandre acredita que pode fazer carreira e viver exclusivamente do seu sonho.

Acredito que sim. Não é uma vida fácil ... bastante complicada até. Tem que haver uma enorme gerência em termos financeiros, mas também emocionais, pois a carreira que escolhi, engloba estar constantemente longe daqueles que amamos. Mas ao menos acordo todos os dias, sabendo que estou a fazer aquilo que gosto... é a melhor sensação do mundo.

Ainda se arrepia com a dança, o que faz tudo isto valer a pena...

Sempre... Embora com a constância do trabalho, as sensações são simplesmente diferentes.

E o sentimento que tens perante o público, qual é?

Sentimento de partilha...

Tudo aquilo que faço em palco, é mostrar algo que sinto e sou... Por isso só espero que a mensagem chegue sempre, se isso acontecer, sinto-me realizado.

Um rapaz de sorriso envergonhado mas com uma força que faz ver muita gente não só como exemplo, como de incentivo para não desistir, nunca ...

Lutem sempre pelos vossos sonhos... sempre.

Nada mais interessa, se nós fizermos sempre aquilo que gostamos, ou lutarmos a tentar, mais nada vai interessar...

O dinheiro é importante, mas não é tudo. É preferível termos pouco, mas sermos constantemente felizes, do que termos momentos de felicidade. 

É muito importante acordarmos de manhã e saber que estamos a viver aquilo que sempre sonhamos... ou que pelo menos estamos a tentar... Vamos ser sempre felizes assim. 

O que você faria se o dinheiro não existisse?


Ora aqui está, o que faríamos se o dinheiro não existisse? 

E em relação aos sonhos, vocês desse lado, estão a viver os vossos?

Palavras para quê?!

Até eu vou ficar a pensar...

Deixo os meus reforçados Parabéns ao Alexandre, por tudo aquilo que representa e um Obrigado pela entrevista.

FranciscoVilhena

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1 comentários

  1. Obrigada, Alex. Tocaram-me as tuas palavras. É importante referir que o "Brainstorm" é todo teu, eu servi unicamente como provocadora. O teu dom e a tua entrega é que representam o grande mérito da peça.
    É um prazer trabalhar contigo.
    Ana Figueira

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