Ao milímetro!

3.7.18


Quando o assunto são as tarefas domésticas, falar de organização é sempre um tema delicado.

A verdade é que o "está arrumado" consegue ser tão relativo como o copo de água meio cheio ou meio vazio.

Se a isto juntarmos uma palavra menos bonita como distúrbio, instauramos o caos!

Hoje vou partilhar convosco a "minha" POC, uma perturbação obsessiva-compulsiva, que consegue tornar a minha vida numa canseira!

Do closet ao simples armário dos remédios, parece que tudo flui ao ritmo da régua e esquadro.

Alinhado, ao pormenor, dos pequenos aos maiores detalhes (vocês não fazem ideia!).

Por exemplo, sou incapaz de me ir deitar sem ter as almofadas do sofá direitas, visualmente ao centímetro... Ou as cadeiras da sala de jantar desalinhadas, uma caneta fora do escritório, de doidos!!!

Adoro receber amigos em casa mas sou aquele tipo de pessoa (admito!) que assim que acaba a refeição, não relaxa enquanto não tiver tudo arrumado! 

Regra geral, encaminho sempre as pessoas para a sala de estar, cúmplice do que se avizinha.

Levantar a louça da mesa, passar um pano no tampo, colocar a louça na máquina e aspirar as migalhas do chão.

Na minha cabeça isto é tudo muito rápido ainda que haja quem se chegue a queixar da minha ausência (não é comum, até porque damos sempre jantares para números "grandes" de amigos).

O meu sossego só chega quando está tudo no chamado "brinco" e isto se entretanto, no serão que se prolonga, ninguém se lembrar de pedir um copo de água ou outra coisa qualquer.

Há anos que os meus amigos dizem que a minha casa parece tirada de uma revista, e nem falo da questão da decoração (que é igualmente muito relativa) mas o facto de estar sempre tão organizada...

No interior dos meus armários, os objetos casam ao milímetro e o pior de tudo isto é que eu sei sempre a que distância estão umas coisas das outras, mesmo que me esforce para esquecer isso.

Se a isto somarmos uma família animal numerosa (dois gatos, três cães, pássaros, peixes) imaginem a minha vida dificultada a uma escala de 10 (risos).

Claro que eles não andam de espanador nas patas mas quase ando eu com um no bolso!... Isso e uma fita métrica.

Brincadeiras à parte, sou aquela pessoa que varre 20 vezes o chão à volta do tabuleiro, cada vez que um dos gatos precisa de ir ao wc...

Ou que passa a mangueira num vaso, a cada alçada de perna de um dos cães.

Viver comigo é um desafio, principalmente se do outro lado, a arrumação é mais despreocupada.

A rotina matinal não muda.

Acordar, abrir umas quantas janelas e levar os cães à rua.

Sacudir a cama dos cães, passar a mopa pelas divisões mais utilizadas, fazer a cama, limpar a área dos gatos, isto tudo sempre a correr.

O apartamento tem uma área considerável, de forma a que o meu despertador me divorcie do sono cerca de 2h antes de ir trabalhar...

Saio praticamente sempre com a sensação de dever cumprido... Até ao final do dia.

Entrar em casa, pousar os sacos e dar comida aos cães.

Limpar o terraço (que só de área, é outro apartamento, risos), a área dos gatos, sacudir mais uma das camas dos cães, enfim, a verdadeira gata borralheira, mas sem príncipe que me salve!

Estes pequenos (assustadores) exemplos, são algumas das características de alguém que vive com esta desordem (que é outra das palavras menos bonitas deste artigo).

Quem me conhece sabe que não é exagero, bem pelo contrário, até consegui ser muito brando na descrição desta azáfama organizacional. 

A perturbação obsessivo-compulsiva afeta cerca de 2,3% das pessoas e se no meu caso me dou ao luxo de a "banalizar" (considerando que se retrata apenas na organização) existem muitas outras como o medo de contaminação por germes, sujidade ou produtos químicos, medo de contrair uma doença, medo de prejudicar outras pessoas de forma acidental ou intencional ou medo de cometer um erro grave.

Confesso que nunca falei disto com tanta naturalidade, fosse realmente por achar que não é propriamente um defeito (mas feitio) seja pela noção do absurdo das exigências autoimpostas. 

E hoje, ao falar disto tão abertamente convosco, entendo que está na hora de também eu perceber se é realmente sério ou aceitável. 

Desabafos à parte, lá em casa a organização é exatamente assim: ao milímetro!

FranciscoVilhena

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